01 fevereiro 2014

Mente que mente…

Um homem que era rei tinha um segredo. Se o segredo fosse revelado, automaticamente deixava de ser rei. Outro homem, alguém muito discreto, era o único, para além do rei, que conhecia o segredo e logo o podia destronar.
O rei vivia em pânico, tinha pesadelos com o dia em que aquele homem se determinasse a revelar o segredo. Mandou selar todas as estradas que levavam à sua casa e deu-lhe ordem de prisão domiciliária.
O rei tinha apenas um súbdito. Se o perdesse, como poderia ser rei? Vigiava-o dia e noite e era ele o seu professor para que o súbdito nada aprendesse de outro.
Um dia de sol radioso, o súbdito teve um rasgo de iluminação e perguntou a si mesmo: porque é que um rei tão poderoso temia o homem discreto cujo nome nem se podia pronunciar?
Ingénuo, ainda, o súbdito acorreu ao seu rei e professor a quem colocou a questão: porque não posso conhecer o homem que isolaste e que nem o nome se pode conhecer?
O rei a arder em preocupação, conseguiu aparentar grande calma e explicou que esse homem era amaldiçoado e que os que tentassem ir ter com ele não mais teriam paz.
O súbdito ficou intrigado, pois o rei era uma pessoa sem paz! Porque temia ele perder algo que não tinha? Não, pensou o súbdito, o rei não dissera toda a verdade.
Assim que teve oportunidade, o súbdito meteu-se a caminho, em segredo, mantendo o rei iludido de que acreditava na sua explicação. Não teve de caminhar muito. Sem saber, sabia o caminho e de repente estava lá, na casa do homem sem nome, mas de sorriso aberto e porta aberta, também, que nem fechadura tinha.
Estranhamente, sentia conhecer aquela casa. Era como se fosse sua e, nela, tudo o que encontrava, sentia que era seu, sentia que o refletia. As paredes eram feitas de espelhos que mostravam-no de todos os ângulos e o súbdito alegrou-se por poder conhecer-se melhor.
Quando decidiu sair, o anfitrião obsequioso, sorriu-lhe e acenou, dizendo que podia voltar sempre, que estava na sua casa.
Pelo caminho, o súbdito refletiu que nunca tinha sentido tanta paz… Não podia deixar de voltar. Que faria com o rei?
No dia seguinte, o rei atento, percebeu que o súbdito não o olhava do mesmo modo e inquietou-se com a situação.
Olhando o rei aflito, o súbdito percebeu que, onde reside o medo, não pode estar o poder. E, de mais a mais, se era o único súbdito do reino, estava em si o poder de destronar o rei. Decidiu que fá-lo-ia, se o rei o tentasse impedir de visitar o homem sem nome.
E foi assim … que o rei perdeu o reinado. O súbdito não o desprezou, apesar de mentiroso, porque percebeu que o rei pensava estar a cumprir a sua obrigação, manter o reino.
Deixou-o administrar uma parte do reino, o reino que afinal não era dele, mas nunca mais se submeteu, pois ele, sim, era livre. Podia ir onde bem quisesse, pois se assim não fosse, nunca se teria conhecido!

O rei é a tua mente, o homem sem nome é o teu coração… e tu? És o súbdito ou és o homem livre?

Texto de Ana Isabel Teixeira de Freitas

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