02 junho 2015

O dinheiro: amigo ou vilão?

(Texto escrito por Ana Isabel Freitas a 15.05.2015)

“O dinheiro: amigo ou vilão?” Na verdade, a resposta está em ti. De acordo com a forma como vejas e lides com o dinheiro, ele poderá ser um ou outro…
O dinheiro não é mais que a expressão material da energia acumulada pelo trabalho.
Na medida em que o dinheiro é energia, a forma como flui, entra, sai, é ganho, gasto ou investido, obedece às mesmas leis que regem a circulação da energia em geral. A natureza da energia é circular e dar vida/gerar movimento e mudança.
Uma vez que o dinheiro - as diferentes moedas - é apenas unidade de troca, o nosso foco não deve estar no dinheiro, ou seja, a nossa motivação para fazer ou não alguma coisa, não deve ser o dinheiro.
Quando parto o pão, não penso na faca, penso no pão, mas uso a faca e tenho o cuidado de usá-la correctamente. No entanto, o meu foco não está na faca. Não parto o pão para usar a faca, antes uso a faca para cortar o pão.
As atividades que desenvolvemos e nos levam a receber dinheiro, convém que as realizemos pela sua importância, para aplicar a nossa energia em algo útil para nós e para os outros, e não com o objectivo de ganhar dinheiro.
Repara que quando fazes algo pelo dinheiro que receberás, o teu sentimento é diferente e, embora te possas aplicar na ação, fechas-te aos ganhos que são reservados à ação desinteressada.
Podes receber ou “teu” dinheiro ou não. Se o recebes consideras-te recompensado, se não o recebes ficas revoltado.
Enquanto, se não tiveres por foco o dinheiro, poderás valorizar outras “recompensas” como sejam: a consciência tranquila por dever cumprido; a gratidão dos beneficiários; o prazer de dar e proporcionar; a reflexão e a aprendizagem que sempre acontecem e, ainda, a percepção de uma compensação mais subtil e normalmente indirecta.
Alguns seres humanos crêem que a Vida é justa e que há uma inteligência maior que tudo ordena e que se ocupa das devidas compensações. Foi isso que Jesus nos quis transmitir ao dizer:
“Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita;
Para que a tua esmola seja dada em segredo; e teu Pai, que vê em segredo, ele mesmo te recompensará publicamente.” (Mateus 6:3,4)
Uma advertência, o sistema de “compensação” não atua de forma direta e imediata, “toma lá, dá cá”. Daí que, os seres humanos ainda não preparados para confiar na justiça divina, não compreendam que essa compensação jamais falha e se ataviem a garantir que justiça lhes seja feita e recebam o mais rápido possível o seu quinhão.
Quando nos comprometemos com a nossa ação é certo que estabelecemos um “contrato” com a vida. Contudo, a vida não é o “vilão da fita” a quem temos de exigir o cumprimento do contrato. Proponho, antes, que aguardes que o contrato se cumpra, confiando na justiça divina. Faço-o, porque aprendi com a minha experiência, pela observação e reflexão. Faço-o porque sigo os preciosos conselhos daqueles que tomo por Mestres.
Os contratos estabelecidos entre seres humanos por vezes têm de ser objecto de processos legais, porque alguns seres humanos são “vilões”. Todavia, não tratemos a vida como o vilão! Se o fizermos, equivale a correr de casa os nossos amigos decentes, para ficarmos com os vilões que temos de vigiar!
Continuando… Falemos de como fixar o valor por um trabalho. O valor do esforço despendido é difícil de fixar, porque não temos acesso a toda a informação necessária para preencher as incógnitas da perfeita equação. Por vezes, há “dívidas a saldar” que implicam um recebimento de valor menor que o esperado, por vezes há “créditos a receber” que nos trazem um valor superior.
A nós, seres humanos, resta-nos agir em consciência. O esforço de fazer contas demais não compensa, nenhumas contas parecerão certas. Recomendo uma regra de bom senso que sigo: não forçar. Se em determinados momentos nos parece que o dinheiro devia ser-nos entregue e não é, depois de termos feito a nossa parte, informar e explicar, deixemos que a vida decida. Muitas vezes recebemos o dinheiro por uma via diferente da que esperávamos ou recebemos graciosamente outras coisas. As tão misteriosas compensações.
Assim, quando tiveres de colocar preço no trabalho ou quando tiveres de retribuir pelo trabalho de outrem, tem em mente o que recebes e não o que dás, para que o teu apego ao dinheiro não perturbe o teu sentido de justiça.
É importante que saibamos retribuir com gosto pelo que recebemos e não envenenemos o nosso ato de retribuir com a avareza que ainda possuamos.
Também é importante evitar receber dinheiro que é entregue de mau agrado sem efectuar a devida “limpeza”. Limpa conscientemente esse dinheiro e mentaliza luz para a consciência de quem o entrega.
O dinheiro tem uma natureza livre (é energia) tem vocação para fluir, para circular. Tal como a água, quando parado, estagna e apodrece. E, como sabes, isto não é uma incitação ao despesismo.
O dinheiro gosta de ser valorizado, respeitado, por isso se multiplica quando bem investido, rende muito mais.
Se não queres que te falte o dinheiro, pensa menos nele e dedica-te mais a viver e a servir, dando valor e significado à tua vida. Assim, quando necessitares, não te faltará e chegará até ti de forma adequada: pelo que ganhas, pela generosidade ou pelo reconhecimento dos outros.
Faria sentido vivermos a pensar no dinheiro, em vez de nos ocuparmos das ações?
Quando somos pessoas naturais, a vida cuida de nós, da nossa sobrevivência e bem-estar e para que tenhamos as condições necessárias para prestar o nosso serviço. Pois, somos trabalhadores da empresa divina cujo gestor é exímio e portanto atento, dando condições de trabalho adequadas a todos os que estão ao serviço.
Neste contexto, cito a voz da sabedoria pelas palavras que nos chegam de Jesus, o Cristo:
Através de Mateus (6:24-33):
«Ninguém pode servir a dois senhores; pois ou há de aborrecer a um e amar ao outro, ou há de unir-se a um e desprezar ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos da vossa vida pelo que haveis de comer ou beber, nem do vosso corpo pelo que haveis de vestir; não é a vida mais que o alimento, e o corpo mais que o vestido? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros, e vosso Pai celestial as alimenta; não valeis vós muito mais do que elas? Qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um cúbito à sua estatura? Por que andais ansiosos pelo que haveis de vestir? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam, contudo vos digo que nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Se Deus, pois, assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Assim não andeis ansiosos, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir? (Pois os gentios é que procuram todas estas coisas); porque vosso Pai celestial sabe que precisais de todas elas. Mas buscai primeiramente o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.»

Através de Lucas (12:20-32):
«Mas Deus disse-lhe: Insensato, esta noite te exigirão a tua alma; e as coisas que ajuntaste, para quem serão? Assim é aquele que entesoura para si, e não é rico para com Deus. Jesus disse a seus discípulos: Portanto vos digo: Não andeis cuidadosos da vida pelo que haveis de comer, nem do corpo pelo que haveis de vestir. Pois a vida é mais que o alimento, e o corpo mais que o vestido. Considerai os corvos, que não semeiam nem ceifam, não têm despensa nem celeiro; contudo Deus os alimenta. Quanto mais valeis vós do que as aves! Qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um cúbito à sua estatura? Se, pois, não podeis fazer nem as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras? Considerai os lírios, como não trabalham nem fiam; contudo vos digo que nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Pois se Deus assim veste a erva no campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé! Não procureis o que haveis de comer ou beber, nem andeis solícitos; porque os homens do mundo é que procuram todas estas coisas; mas vosso Pai sabe que precisais delas. Buscai antes o seu reino, e estas coisas vos serão acrescentadas.”

Jesus deixa-nos o Tratado da verdadeira “economia” = gestão da casa. A gestão da nossa casa é a gestão de tudo aquilo que nos pertence temporariamente, dos recursos que nos foram atribuídos pelo Creador para podermos realizar o trabalho = missão.  
O ser humano “ inventou” que os bens são escassos e, assim, suscitou a competição pela posse dos bens que desencadeia a ganância e a agressividade.
O que Jesus ensinou, relembrando-nos a Lei Maior, é que para os que vivem na naturalidade há abundância, garantida por um Pai do Céu vigilante, generoso e justo. Então, para beneficiarmos dessa abundância sejamos pessoas de fé, “busquemos o reino de Deus” e busquemos “antes”, ou seja, prioritariamente, e “estas coisas vos serão acrescentadas”.